Unit 4 - Rio, de norte a sulPano de fundo

Rio, de norte a sul

O Rio de Janeiro é a cidade mais famosa do Brasil. Num terreno recortado por baías e enseadas, no mar a leste, e por serras e morros, a oeste, o Rio cresceu para o norte e para o sul, numa faixa estreita de terra. Ao longo dos anos, prédios históricos, igrejas, parques, praças e bairros foram enfeitando ainda mais aquela paisagem natural, para formar a “Cidade Maravilhosa”, com muitos monumentos famosos, como o Cristo Redentor no alto do Corcovado.

O sul e o norte, porém, não são diferentes só na geografia do Rio. Segundo o depoimento da professora Lídia Santos nesta unidade, tal divisão reflete também a história desigual do desenvolvimento da cidade e as diferentes percepções culturais sobre essas regiões. Ela acredita que, apesar dessas diferenças, há certas confluências culturais.

Em uma crônica bastante famosa, “Zona Norte, Zona Sul”, o escritor Luis Fernando Verissimo conta a estória de Vânia, que, para viver uma bem-humorada aventura amorosa, vai do Grajaú a Copacabana, ou seja, da Zona Norte à Zona Sul. Na sua aventura, passa por locais comuns, como a área de serviço. Ela também vive situações inesperadas, como aparecer na TV ou ser comparada a uma celebridade como Dina Sfat.

Acompanhe os bate-papos desta lição e se aventure um pouco mais no cotidiano e nos segredos desta que foi também uma Cidade Olímpica, sede dos Jogos de 2016. Como pano de fundo, veja o vídeo em que a professora Lídia Santos fala sobre as Zonas Norte e Sul do Rio de Janeiro e o que ela comenta o estilo literário de Verissimo. Veja também as imagens de uma área de serviço de um apartamento brasileiro e os vídeos sobre quem era Dina Sfat.

Entenda o Rio de ponta a ponta

Lidia Santos é professora aposentada de literatura brasileira e hispano-americana na City University of New York, nos Estados Unidos. Neste video de 2010, ela opina sobre a história desigual do desenvolvimento das Zonas Norte e Sul do Rio de Janeiro e sobre as diferentes percepções culturais da cidade.

  • Rio, dividida e integrada (Lídia)

    Termos úteis

    Berço: cama de bebê; local onde surge algo.

    Carioca: morador da cidade do Rio de Janeiro.

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    Lídia: Bom, pra um carioca essas divisões não são apenas divisões geográficas, quer dizer, a gente tem que entender que a Zona Sul é a parte da cidade que… que compreende as praias oceânicas, né, o Rio de Janeiro ele tá dividido, tá sempre olhando pro mar na maior parte das vezes e… mas tem um lado da cidade que acompanha o interior da baía de Guanabara. Essa… uma parte dessas… dessa… dessa… é… dessa parte da cidade se chama Zona Norte. E também ela vai se estendendo pro lado das montanhas e… e é interessante, quer dizer, a Zona Norte é uma coisa, a Zona Sul é outra. Mas essas… essas zonas, elas na verdade, elas se…elas se interagem, porque a Zona Sul sem a cultura que nasceu na Zona Norte, a cultura do Rio de Janeiro, na verdade, ela nasceu ou no centro, ou na Zona Norte. E a Zona Sul precisa dela. Por exemplo, quando a Zona Sul precisa de fazer uma… um bloco de Carnaval, quando ela precisa do samba, ela tem que passar pela… ela tem que ir à Zona Norte, ela tem que convidar a Zona Norte pra vir até a Zona Sul porque senão ela não tem identidade. Porque a Zona Sul é… bom… você tem uma identidade turística na Zona Sul, você tem a Copacabana, que é uma praia lindíssima, que continua sendo linda, que foi palco de todas as…ah… é… cinema americano quando queria falar de Zona… de Rio de Janeiro, era Copacabana, o Copacabana Palace hospedou todos os grandes atores de Hollywood. Mas na verdade na Zona Norte, e… e na zona do Centro, foi onde nasceu o famoso samba carioca, quer dizer, você… a Zona Norte é uma espécie de emblema… é… da… da miscigenação… é… que caracterizava, ou que se pensava até bem pouco tempo, que era característica da cultura… é… brasileira....talvez aqui há também a diferença que Copacabana já começou como um bairro de edifício de apartamentos, e a Zona Norte se caracterizava mais por casas, as pessoas viviam em casas. Mas ao mesmo tempo a Zona Norte tinha também as fábricas, era a parte industrial, ou era, como o porto, a parte onde havia o trabalho. Em geral as pessoas trabalhavam… moravam perto do seu trabalho. Então, por exemplo, a favela da Mangueira foi formada com funcionários das fábricas que tinham por ali. Então a fábrica ficava embaixo, e a maneira mais barata de morar era morar subindo os morros que estavam perto. ...E essas pessoas, como também havia uma cultura muito homogênea, todos trabalhavam no mesmo lugar, muitas vezes vinham de outros estados do… do… do Brasil, se juntavam e formavam uma… havia uma… um ambiente propício pra uma mistura, mesmo. Então você tem… aí que nasce o samba, você tem o samba que é formado por raiz… é… negra, com raiz… é… é… portuguesa, e dizem que também alguns instrumentos indígenas, né, então essa… esse… pode ser verdade, pode ser um mito, mas a verdade é que o Rio de Janeiro, especialmente a Zona Norte, ele… é… ficou conhecida como o berço do samba carioca. Quer dizer, as partes mais distantes da cidade e posteriormente, a Zona Norte. ..Eu acho que a gente hoje tenta unir Zona Norte e Zona Sul, mas há que ter essa… essa… essa coisa bem clara, quer dizer, a Zona Sul é mais servida de… de tudo, de transportes, a Zona Sul é a parte turística, são os cartões postais do Rio de Janeiro, em geral estão na Zona Sul, e a Zona Norte é a zona de trabalho, é a zona que… que formou… é… uma cultura muito rica também, que sem a qual a Zona Sul não poderia ser o que é, porque se você tem o show pra turista na Zona Sul… é… esse show é feito com a cultura da Zona Norte. Então essa… essa contradição, a gente tem que tentar transformá-la em confluência, né, quer dizer, eu acho que o carioca tenta fazer isso o tempo todo, eu acho que cada vez mais… eu acho que essas zonas são mais integradas.

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    Lídia: Well, for a carioca these are not just geographical divisions; we have to understand that the South side is the part of the city that encompasses the oceanic beaches. Rio de Janeiro is divided, it’s always facing the ocean, but there is a part of the city that follows the inner part of baía de Guanabara, which is called the North side. And it stretches towards the mountains. It’s interesting, the North and South side are completely different. But both sides interact, because the culture of Rio de Janeiro was born in the central area, or on the North side. And the South side needs it. For example, when the South side needs to create a bloco de carnaval, when it wants to use samba, it goes to the North side, and invites it to join the South; otherwise it doesn’t have its own identity. Well, the South side is identified with tourism; you have Copacabana, which is a gorgeous beach. When the American movie industry wanted to talk about Rio de Janeiro, it talked about Copacabana; all the great Hollywood stars stayed at the Copacabana Palace Hotel. But, actually, it was on the North side and Central areas that the samba carioca was born. The North side is sort of an emblem of the mix that, until not long ago, was seen as characterizing the Brazilian culture. Maybe the difference here is that Copacabana started out as an area of apartment buildings, while the North side had houses. At the same time the North side also had factories, it was the industrial area of the city, or it was, like the port area, where the jobs were. Usually people lived close to where they worked. For example, the factory workers who lived there formed the Mangueira Slum. The factory was on the foothills of the mountain and the least expensive place to live was up the nearby hillsides. Their culture was very uniform as they all worked at the same place, often times came from other states in Brazil, and the environment was favorable for a mix. So here you have the samba, formed by black and Portuguese heritage and, many say, native instruments. This might be true or a myth but in reality, the most remote areas of the city, and later the North side, became known as “the cradle of the samba carioca.” It has to be very clear, though, that the South side is better served by everything such as transportation, it’s the tourist area, the postcard of Rio de Janeiro, whereas the North side is the work zone, but with a rich culture without which the South side would not be what it is today. As an example, if you have a show for tourists, it is done with the culture from the North side. We need to transform this contradiction into a confluence; the carioca constantly does that and I think these two sides of the city are becoming increasingly more integrated.

Área de serviço

Os apartamentos brasileiros têm arquitetura diferente da dos norte-americanos. Uma característica dos “apês” no Brasil são as áreas de serviço. Veja neste vídeo como elas são usadas.

Quem era a Dina Sfat?

Celebridades não duram para sempre... Houve um tempo em que Dina Sfat não podia frequentar praias no Rio, de tão famosa que era. Ainda hoje há muitos que se lembram dela. Outros, no entanto... Acompanhe os três vídeos e descubra quem era ela.

  • Você sabe quem era a Dina Sfat? (Diana)
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    Diana: Não. Não sei.

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    Diana: No. No, I don't.

  • Ela era... (Mara)
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    Vivian: Quem é a Dina Sfat?

    Mara: A Dina Sfat não era uma artista de televisão?

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    Vivian: Who is Dina Sfat?

    Mara: Wasn't Dina Sfat a TV star?

  • A história completa (Olga)
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    Olga: Sei! Ela morreu, já!

    Vivian: Quem é?

    Olga: É uma artista de… de… era de televisão, era de cinema. Agora não me lembro se era de teatro. Não me lembro. Mas eu acho que não era não.

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    Olga: I know (who she is). She has already died.

    Vivian: Who is she?

    Olga: She was a TV and movie star. Now I can't remember if she did theater. I can't remember. But I don't think she did.

Luis Fernando Verissimo

Lidia Santos fala um pouco sobre a vida e o estilo do escritor Luis Fernando Verissimo, autor da crônica "Zona Norte, Zona Sul".

  • Talento de berço (Lídia)
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    Lídia: Bom, o Verissimo é... quer dizer, ele pertence quase que a uma dinastia de escritores. O pai dele é... era o escritor Érico Verissimo, que inclusive viveu nos Estados Unidos muito tempo... o Érico, né. E o próprio Luis, também, ele viveu, junto com a família, nos Estados Unidos. E inclusive esse é um fato interessante, que às vezes ele cita os Estados Unidos. Eu me lembro que uma... eu me lembro de uma crônica dele, muito interessante, na época do Clinton, e que ele fez uma... uma... uma crônica, falando e comparando a época do Clinton com a época que nós estávamos vivendo na época do Brasil. Acho que foi no primeiro governo Clinton, lá por 95, 96. A linguagem do Verissimo é uma linguagem ágil, é uma linguagem que usa humor, que é uma coisa que também a crônica brasileira, especialmente, ela é... ela é muito característica, o humor na crônica. E... e essa crônica do Verissimo é muito popular. O Verissimo já teve várias dessas crônicas adaptadas pra televisão, transformadas em séries. É... acho que até filme fizeram sobre... sobre algumas dessas crônicas dele. Tem muitos livros publicados de crônicas e, enfim, é um escritor de... de... importante na área da crônica, e escreve nos principais é... não só jornais, como também escreve nas magazines, tipo “Veja”, “Isto é”.

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    Lídia: Well, Verissimo belongs almost to a dynasty of writers. His father was the writer Érico Verissimo, who lived in the United States for quite some time. And Luis himself also lived with his family in the U.S. It’s interesting that sometimes he mentions the United States. I remember one of his very interesting chronicles, during Clinton’s administration, comparing it to the times we were living in contemporary Brazil. I think it was during Clinton’s first term, around 95, 96. Verissimo’s language is very quick fluid and humorous as well, which is very characteristic of Brazilian’s chronicles. And this one in question is very well known. There were several of Verissimo’s chronicles adapted for and transformed into TV series. I think they even made movies about some of them, and he has also several chronicle books published. He is a very important writer of this style and writes in newspapers and magazines such as “Veja” and “Isto é”.